Desde 2008, o Brasil ocupa o lugar de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. O uso do agrotóxico reduz a população de determinados seres vivos nocivos à agricultura

Resolução: I. Correta. Designar os agrotóxicos como defensivos agrícolas é o artifício retórico mais elementar para dissimular a natureza nociva desses produtos. Por um lado, ele sugere que os agrotóxicos supostamente protegem os cultivos; por outro, oculta os efeitos deletérios desses produtos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Ainda na década de 1980, uma verdadeira contenda semântica foi desencadeada por ocasião dos debates sobre a regulação do registro e uso dos venenos agrícolas no Rio Grande do Sul, resultando na criação de uma legislação estadual específica que oficializou o conceito de agrotóxico, fato posteriormente repetido em âmbito federal por meio da promulgação da Lei 7.802/89. Importa frisar, no entanto, que a retórica da ocultação não encontraria suficiente lastro se não contasse com a guarida de instituições científicas que, com suas abordagens positivistas e reducionistas, são apresentadas à opinião pública como neutras e, portanto, imunes a subjetivismos ideológicos.

II. Correta. A narrativa justificadora em nome de necessidades básicas da sociedade torna-se ainda mais frágil quando a expansão do consumo dos agrotóxicos é correlacionada ao aumento do consumo de medicamentos. Essa correlação é dupla e se dá de forma direta e indireta: diretamente, pelo aumento dos casos de intoxicação – muito embora a maior parte dos efeitos crônicos dos agrotóxicos sobre a saúde de agricultores e consumidores não seja comumente relacionada à exposição e à ingestão de tais produtos; indiretamente, porque o aumento do emprego dos agrotóxicos é um fenômeno intrinsecamente relacionado à expansão dos sistemas agroalimentares globalizados e à correspondente mudança nos hábitos alimentares da população, com o incremento do consumo de comida ultraprocessada, altamente calórica e portadora de ingredientes químicos maléficos à saúde.

III. Incorreta. Os organismos resistentes aos inseticidas não surgem, mas sim são selecionados ao longo do tempo. Por meio de um mecanismo aleatório denominado mutação, um gene que confere resistência a determinado inseticida pode eventualmente, vir a surgir na população, do mesmo modo como ocorre nas bactérias resistentes a antibióticos. No início, os mutantes resistentes são raros, mas a partir do momento em que entram em contato com o inseticida, esses mutantes aumentam em frequência, devido a maior probabilidade de sobreviverem, e podem acabar constituindo, depois de algum tempo, praticamente toda a população.

IV. Incorreta. Os inseticidas não são específicos e afetam também outras espécies de insetos. Afetam espécies que transportam o pólen entre as plantas, como abelhas, vespas, borboletas e outros insetos, que são essenciais para a reprodução, tanto das plantas cultivadas quanto das nativas. Também afeta diversos outros que se alimentam das espécies que são consideradas pragas, causando desequilíbrio ecológico nas plantações e em seu entorno.