Ora, Ora

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07. (Enem 2002) Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) compara, nos trechos, as guerras das sociedades Tupinambá com as chamadas "guerras de religião" dos franceses que, na segunda metade do século XVI, opunham católicos e protestantes.

"(...) não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. (...) Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade [o canibalismo], mas que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos. Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do que o comer depois de morto; e é pior esquartejar um homem entre suplícios e tormentos e o queimar aos poucos, ou entregá-lo a cães e porcos, a pretexto de devoção e fé, como não somente o lemos mas vimos ocorrer entre vizinhos nossos conterrâneos; e isso em verdade é bem mais grave do que assar e comer um homem previamente executado. (...) Podemos portanto qualificar esses povos como bárbaros em dando apenas ouvidos à inteligência, mas nunca se compararmos a nós mesmos, que os excedemos em toda sorte de barbaridades."

MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 1984.

De acordo com o texto, pode-se afirmar que, para Montaigne,

  1. a ideia de relativismo cultural baseia-se na hipótese da origem única do gênero humano e da sua religião.
  2. a diferença de costumes não constitui um critério válido para julgar as diferentes sociedades.
  3. os indígenas são mais bárbaros do que os europeus, pois não conhecem a virtude cristã da piedade.
  4. a barbárie é um comportamento social que pressupõe a ausência de uma cultura civilizada e racional.
  5. a ingenuidade dos indígenas equivale à racionalidade dos europeus, o que explica que os seus costumes são similares.

Resposta: B

Resolução: De acordo com o texto, Montaigne argumenta que não vemos nada de bárbaro ou selvagem nas práticas das sociedades Tupinambá e que consideramos bárbaras as coisas que não são praticadas na nossa terra. Ele também aponta que os atos de crueldade, como o canibalismo, são condenáveis, mas que não devem nos cegar para nossos próprios defeitos. Ele acredita que é mais bárbaro comer um homem vivo do que depois de morto e que os atos de violência cometidos em nome de religião e fé são piores do que o canibalismo. Portanto, para ele, a diferença de costumes não deve ser usada como critério para julgar as sociedades e que as sociedades civilizadas podem ser tão bárbaras quanto as sociedades consideradas selvagens.


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