07. (Enem 2015) À garrafa
Contigo adquiro a astúcia
de conter e de conter-me.
Teu estreito gargalo
é uma lição de angústia.
Por translúcida pões
o dentro fora e o fora dentro
para que a forma se cumpra
e o espaço ressoe.
Até que, farta da constante
prisão da forma, saltes
da mão para o chão
e te estilhaces, suicida,
numa explosão
de diamantes.
PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
A reflexão acerca do fazer poético é um dos mais marcantes atributos da produção literária contemporânea, que, no poema de José Paulo Paes, se expressa por um(a)
- reconhecimento, pelo eu lírico, de suas limitações no processo criativo, manifesto na expressão “Por translúcida pões”.
- subserviência aos princípios do rigor formal e dos cuidados com a precisão metafórica, como se observa em “prisão da forma”.
- visão progressivamente pessimista, em face da impossibilidade da criação poética, conforme expressa o verso “e te estilhaces, suicida”.
- processo de contenção, amadurecimento e transformação da palavra, representado pelos versos “numa explosão / de diamantes”.
- necessidade premente de libertação da prisão representada pela poesia, simbolicamente comparada à “garrafa a ser “estilhaçada”.
Resposta: D
Resolução: O poema "À Garrafa" de José Paulo Paes é uma reflexão sobre o processo poético, atributo distintivo da produção literária contemporânea. O poema expressa o processo de contenção, amadurecimento e transformação da palavra, representado pelos versos “numa explosão/de diamantes”. O eu lirico reconhece suas limitações no processo criativo, manifestas na expressão "Por translúcida pões" e também no processo de contenção da forma, bem como a ideia da libertação final da prisão representada pela poesia, simbolicamente comparada à "garrafa" para ser "estilhaçada". O poema não expressa uma visão pessimista, nem a ideia de subserviência aos princípios do rigor formal e cuidado com a precisão metafórica.